sábado, 12 de julho de 2014

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO-AEE ROMPENDO MODELOS

"Temos o direito de ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza."
                                                        
                                                                                         (Boaventura de Sousa Santos)




           “O modelo dos modelos”
                                                                                Ítalo Calvino

    Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e realidade coincidam. [..] Mas se por um instante ele deixava de fixar a harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas. [...] A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já desejava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço. [...] Analisando assim as coisas, o modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.
Neste ponto só restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.
                                                                          

REFLEXÃO

   Diante da leitura do texto acima, de Ítalo Calvino reforço ainda mais minha opinião de que não se pode viver preso a regras e modelos antigos, pois devemos ser flexíveis aos acontecimentos e as coisas que surgem ao nosso redor, para que seguir padrões se nem sempre eles servirão, pois precisamos nos adaptar a todos e a todas as realidades referenciando nossa profissão como educadores.

     Quando fala-se em AEE de imediato nos remetemos a necessidade que cada pessoa apresenta, pois cada um tem suas peculiaridades que devem ser respeitadas. Respeitar as diferenças e as necessidades que cada pessoa apresenta é demonstrar que ele também é importante e que fazemos parte de um mundo cheio de diferenças onde cada um tem seu espaço e todos podem sim viver harmoniosamente desde que não oprima e nem tire o direito do outro de viver em sociedade dignamente.
É preciso que abramos a nossa mente para compreender e sentir a necessidade de ser flexível diante da necessidade e capacidade de cada pessoa, pois ninguém é igual a ninguém e cada um tem sua individualidade que deve ser respeitada.


domingo, 8 de junho de 2014

TEA - RECURSOS E ESTRATÉGIAS DE BAIXA TECNOLOGIA


FAZENDO A HISTÓRIA              

                      


*Atividades para crianças com autismo.  Explorando animais, meios de transporte, efeitos sonoros e onomatopeias.

*Metas principais: Acompanhar e compreender uma sequência narrativa.

Contar uma história para a criança utilizando a sequência narrativa de um livro caseiro personalizado. Utilizar sua expressividade facial, corporal e de voz em breves encenações para ajudar a criança a manter-se atenta e motivada durante toda a história. Oferecer opções de cartões para que a criança complete a história.
Escolher o cartão que completará cada trecho da história do livro.
Confeccione um livro personalizado utilizando papel de tamanho A3 e deixe espaços em branco no texto para que cartões possam ser encaixados de forma a completar a história. Confeccione de 2 a 4 cartões diferentes como opções para cada espaço em branco. Os cartões podem conter apenas fotos/desenhos, conter fotos/desenhos e palavras, ou apenas palavras, dependendo do estágio de desenvolvimento das habilidades cognitivas de sua criança. Plastifique tanto o livro como os cartões e cole uma fita de Velcro no verso dos cartões e nos trechos em branco do livro para que os cartões possam ser encaixados desta forma.

*Era uma vez um…
Gato
Sapo
*Que morava em uma casa…
Vermelha
Amarela
*Um dia, ele foi passear de…
Carro
Trem
*E ele chegou na….
Escola
Praia
*Ali, ele encontrou seu amigo…
Pato
Leão
*E eles comeram juntos uma deliciosa e gigante…
Banana
Laranja
Melancia

Estrutura da atividade:

Quando você começar a contar a história, mantenha todos os cartões em uma prateleira e mostre à sua criança apenas os 2 a 4 cartões referentes à primeira página. Seja o modelo para sua criança, escolha um dos cartões e coloque você mesmo o cartão no espaço com velcro do livro, sem pedir nada à criança. Guarde na prateleira os cartões daquela página que não foram utilizados. Continue a história utilizando sua expressividade e animação, encenando, oferecendo efeitos sonoros relativos aos meios de transporte e onomatopeias para cada um dos animais. A cada espaço em branco, mostre os novos cartões e estimule a criança (caso ela esteja altamente motivada) a ajudá-lo a escolher um cartão e encaixá-lo no livro. Lembre-se que o momento em que solicitamos algo da criança também faz parte da diversão. Traga leveza e animação para este momento demonstrando sua empolgação em escolher os cartões e montar a história. A criança não precisa escolher e colocar os cartões no livro. Se ela conseguir manter-se atenta e acompanhar toda a história, isso já é fantástico para uma criança que ainda não adquiriu a habilidade de seguir sequências narrativas orais ou escritas. E se ela participar escolhendo e colocando os cartões no livro, lembre-se de celebrar muito suas participações!
Se a sua criança gosta de música, você pode fazer uma história cantada. Com uma melodia conhecida, você pode confeccionar o livro escrevendo a letra original ou uma letra modificada para montar a sua história e também deixar espaços em branco para a criança completar com os cartões.
Observações: Algumas crianças podem se beneficiar de uma história com menos espaços em branco para completar – ou até nenhum – caso os espaços em branco e os cartões a distraiam dificultando a compreensão da história narrada. Se este for o caso de sua criança, invista em livros personalizados confeccionados por você com os interesses da criança, com texto simplificado e ilustrações atraentes, para que você possa simplesmente contar a história com animação e expressividade.




                             SEU PRÓPRIO JOGO DE TABULEIRO





Atividades para crianças com autismo. Conquista de objetivos, demonstrar seu conhecimento em seu assunto favorito.

*Metas principais:

Flexibilidade – ajudar a criança, o adolescente a participar de um jogo com diversas etapas e um conjunto de regras.
Desenvolver período de atenção compartilhada de 20 minutos ou mais.

*Preparação da atividade:

Desenhe em uma cartolina o caminho do jogo todo dividido em casinhas nas quais os jogadores moverão suas peças. Inclua um início e um fim. Pinte as casinhas com 3 cores diferentes alternadas. Plastifique o tabuleiro para que ele fique mais resistente e para que possa ser reutilizado em outras sessões com outras temáticas. Cole figuras em alguns pontos do caminho para representar a aventura a qual escolher.
Confeccione até 30 cartões divididos em 3 categorias representadas pelas mesmas cores do tabuleiro. Se você pintar as casas do tabuleiro de vermelho, azul e amarelo, pinte o verso dos cartões nessas mesmas cores, 10 de cada. Escreva nos cartões as tarefas para os jogadores que você acha que serão motivadoras para a criança, adolescente e que podem incentivá-lo a desenvolver habilidades sociais como o contato visual, a conversação, a flexibilidade, o período de atenção compartilhada, e outras habilidades que façam parte das metas educacionais do programa de desenvolvimento desta pessoa.

Sugestões para as categorias de cartões: uma pilha de cartões pode conter tarefas que trabalhem os desafios de comunicação verbal, a outra propõe tarefas físicas (incluindo habilidades de motricidade fina e ampla), a última pode trabalhar habilidades cognitivas como a identificação de formas geométricas, leitura e matemática. Se a sua criança gosta de informações factuais de história e geografia, por exemplo, adicione perguntas sobre estas áreas de interesse. Se ela é fascinada por dinossauros ou pelos filmes ou desenhos animados, inclua uma categoria de cartões que fazem perguntas sobre estes temas.

Exemplos de tarefas: imitar um gorila; andar fingindo que está com o pé doendo; inventar uma sentença utilizando uma determinada palavra; contar algo que aconteceu na última viagem; fazer uma pergunta pessoal para o outro jogador e ouvir a resposta (Ex: “qual é a sua comida preferida? ”); quanto é 4 + 3; etc.
Traga para o quarto peças que vocês moverão pelo tabuleiro (se você tiver bonequinhos das próprias crianças, melhor ainda) e um dado tradicional ou um dado gigante confeccionado por você.
Explique as regras do jogo e esteja aberto para negociar com sua criança novas regras sugeridas por ela.

Cada participante tem a sua vez para jogar o dado, andar o número de casinhas sorteado, retirar um cartão da pilha correspondente à cor da casinha, e cumprir a sua tarefa. Você pode ajudar sua criança a cumprir as tarefas, e pedir que ela lhe ajude também nas suas.

Para trazer ainda mais diversão e leveza, faça uma cara engraçada ou levante-se da cadeira/chão para fazer a sua “dança da sorte” antes de jogar o dado, faça uma festa animada para qualquer que seja o resultado do dado, fale com a voz de algum personagem interessante, levante-se e encene com a criança o que está acontecendo com os personagens do jogo, comemore todas as vezes que vocês cumprirem as tarefas, celebre as participações da criança na atividade.

Dê ênfase à diversão. Quando o primeiro jogador chegar ao final do tabuleiro, isso será motivo de celebração. O segundo jogador continuará jogando até que ele também chegue ao final. E será celebrado também. Retire a ênfase da competição e do ganhar ou perder. O importante não será chegar primeiro, e sim jogar junto, divertir-se e esforçar-se para chegar ao final.

Variações: Para estimular a natureza cooperativa ao invés de competitiva do jogo, estabeleça desde o início que os dois jogadores trabalharão em parceria (em uma aliança de super-heróis!).

        RECURSOS DE BAIXA TECNOLOGIA:

                PRANCHAS DE COMUNICAÇÃO

As pranchas de comunicação podem ser construídas utilizando-se objetos ou símbolos, letras, sílabas, palavras, frases ou números. As pranchas são personalizadas e devem considerar as possibilidades cognitivas, visuais e motoras de seu usuário.



Essas pranchas podem estar soltas ou agrupadas em álbuns ou cadernos. O indivíduo vai olhar, apontar ou ter a informação apontada pelo parceiro de comunicação dependendo de sua condição motora.






REFERÊNCIAS:

http://www.inspiradospeloautismo.com.br/a-abordagem/atividades-interativas-para-pessoas-com-autismo/

quinta-feira, 1 de maio de 2014

                        

                     DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E SURDOCEGUEIRA



A Deficiência múltipla tem como característica duas ou mais deficiências associadas, como física, auditiva, intelectual e visual, onde as mesmas comprometem o desenvolvimento e a capacidade da criança, é importante lembrar que não é um somatório de deficiências que caracteriza a múltipla deficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades de comunicação, interação social funcionais e de aprendizagem que irão determinar as necessidades da mesma pois a criança não precisa ter todas as deficiências para ser considerada como múltipla. A mesma pode ser congênita ou adquirida, congênita quando a criança nasce com as deficiências, adquirida quando surgem depois no decorrer da vida.
 A deficiência múltipla pode apresentar alterações significativas no processo de desenvolvimento, aprendizagem e adaptação social dos alunos, pois ela possui variadas potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser compreendidas e consideradas. Algumas vezes apresentam, interesses inusitados, diferentes níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicar e expressar suas necessidades.
  A pessoa com deficiência múltipla necessita de um ambiente que responda suas necessidades, seu tempo para a realização das atividades, para isso é preciso organizar suas atividades de forma multissensorial para lhe assegurar a realização das tarefas propostas segundo seu planejamento.
        Enquanto a deficiência múltipla tem como princípio a associação de duas ou mais deficiências a surdocegueira é uma deficiência única, a mesma tem como característica a perda da audição e da visão de forma que as duas deficiências possam atrapalhar a uso dos sentidos criando necessidades especiais de comunicação, aprendizagem e de desenvolvimento social.
        A surdocegueira adquirida manifesta-se pela perda progressiva da visão e da audição, ou de um dos dois sentidos quando o outro já está comprometido; dificuldade de percepção de proximidade das pessoas, não percepção de objetos que caem, dificuldade de participação em rodas de conversas brincadeiras e jogos.
A surdocegueira congênita manifesta-se pela ausência da criança do mundo externo, ou seja, falta de percepção de movimentos externos, podendo ser confundida com deficiência mental, devido ao isolamento imposto pela ausência de luz ou de som.
A comunicação para a pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla é muito importante devendo ser flexível e adequada a cada situação, pois cada um tem uma necessidade diferente, sendo necessário que se tenha bastante atenção ao se estabelecer esta comunicação pois é através dela que se alcançara a aprendizagem.
O processo de aprendizagem desses alunos requer muitas modificações. Para isso, faz-se necessária uma análise crítica das relações Inter e intrapessoais vividas na escola, didático-pedagógicas e organizacionais que garantam a promoção da aprendizagem e adaptação desses alunos ao grupo escolar para um melhor desenvolvimento.

“Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades” (Hallahan e Kauffman).

sábado, 15 de março de 2014


Atendimento Educacional Especializado para a pessoa com surdez

Na história da Educação da pessoa com surdez percebe-se que as pessoas surdas eram consideradas como incapazes de gerenciar seus atos. O que foge totalmente da realidade, pois o fato de a pessoa não ouvir não quer dizer que ela não aprende a ler e escrever como também desenvolver-se nos demais aspectos. Portanto é nítido que a surdez não impede a pessoa de ter uma vida social como também o desenvolvimento do corpo e da mente. São muitos os entraves que a pessoa com surdez enfrenta para garantir seu espaço na vida escolar e na sociedade.
Mesmos com políticas já definidas para a Educação Especial na perspectiva inclusiva percebe-se que ainda temos um longo caminho a percorrer, pois ainda encontramos escolas e professores que ainda se diz não estar preparados para receber estes alunos, alegando a falta de conhecimentos na área para recebe-los e de fato incluí-los dentro das escolas e do contexto escolar e social.
A Educação da pessoa com surdez tem tido muitas histórias ao longo da jornada que a mesma vem vencendo a cada dia, muitas conquistas e experiências com e sem êxito, e outras que vem contribuindo com a inserção das pessoas com surdez nas escolas e na sociedade, como é o caso das tendências educacionais para a pessoa com surdez que são: oralismo, comunicação total e o bilinguismo, onde cada uma teve sua participação na historia da educação do surdo mesmo que não tenham dado grandes contribuições como é caso do oralismo e da comunicação total que não conseguiram o desenvolvimento pleno das pessoas com surdez pelo fato de negar a importância da língua natural do surdo que é a língua de sinais (LIBRAS), as mesmas deixaram a desejar em suas metodologias na educação do surdo não valorizando a língua materna dos mesmos. É o que afirma Sá (1999) sobre o oralismo:

“Ocasiona déficits cognitivos, legitima a manutenção do fracasso escolar, provocam dificuldades no relacionamento familiar, não aceita o uso da Língua de Sinais, discrimina a cultura surda e nega a diferença entre surdos e ouvintes”.
            
          Tanto o oralismo quanto a comunicação total pecaram quando negaram a língua materna da pessoa com surdez, não permitindo ao surdo defender sua origem.
  Já o bilinguismo vem com o objetivo de permitir, ou seja, de capacitar as pessoas com surdez para utilizar as duas línguas, Língua de Sinais e a língua da comunidade ouvinte, na comunidade escolar e na vida social. Mesmo ainda se adequando a esse processo é visível que esta tendência é a que mais favorece as pessoas com surdez simplesmente por valorizar as peculiaridades do surdo valorizando sua língua natural e permitindo uma melhor comunicação e interação num todo na vida dos mesmos.

            Mesmo sabendo o quanto é importante o questionamento sobre a questão das línguas para a educação do surdo devemos estar atentos a outras questões que são consideradas grandes contribuintes no fracasso escolar das pessoas com surdez que é o caso das práticas pedagógicas que precisam estar adequadas às peculiaridades dos alunos na busca do pleno desenvolvimento de todos, pois vivemos numa sociedade onde as diferenças devem ser respeitadas.
         



SÁ, Nídia Regina Limeira de. Educação de Surdos: a caminho do bilinguismo. Niterói: Eduff, 1999.